Caatinga é um bioma pouco pesquisado. Um estudo coordenado pelo laboratório de Morfo-Taxonomia Vegetal da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) descobriu, recentemente, uma nova espécie de planta, a Gymnannthes boticario. O nome é uma homenagem a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza por ter apoiado o trabalho desde as fases iniciais.
A Gymnanthes boticario não é a primeira referência que a fundação recebe. Ela está no mesmo grupo que o anfíbio Megaelosia boticariana, os peixes Aphyolebias boticarioi e Listrura boticario, além de outra espécie vegetal, a Passifroa boticarioana Cervi
Antes da descoberta, eram conhecidas 45 plantas do gênero Gymnanthes, três dessas endêmicas no Brasil. A planta foi descrita em artigo publicado em dezembro de 2010, no volume 40 da publicação Willdenowia - Anuário do Jardim Botânico e do Museu Botânico de Berlin-Dahlen.
Locais onde as plantas são encontradas
A planta ocorre em áreas arenosas ou pedregosas, com altitudes entre 400 e 900 metros. A altura da espécie é de um a quatro metros, suas flores são pequenas, amarelo-creme e não exalam perfume. Sua ocorrência foi verificada nos estados Pernambuco, Piauí, Paraíba, Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte.
A espécie foi coletada, pela primeira vez, em 31 de maio de 2006, em Mirandiba, no sertão pernambucano. Em 2007, a pesquisadora Maria de Fátima de Araújo Lucena registrou novos indivíduos no Parque Nacional Serra da Capivara (PI).
Novas populações da Gymnanthes boticario foram encontradas em Pedra Branca (PB), na Serra de Olho d'Água, uma região a 740 metros de altitude. De acordo com a pesquisadora, todos os espécimes já coletados foram encontrados em remanescentes de Caatinga bem preservados, com pouca intervenção humana e, por vezes, de difícil acesso, com vegetação predominante arbustiva e arbórea.
Durante a pesquisa foi feito um inventário florístico da família Euphorbiaceae com necessidade de investigação científica ou cujo conhecimento botânico fosse escasso. Os locais selecionados para o estudo foram as unidades de conservação Parques Nacional Serra da Capivara, no Piauí, e o Parque Nacional Serra de Itabaiana, em Sergipe, o município de Mirandiba, a região dos Cariris Paraibanos e uma área no município de Porto da Folha (Sergipe).
Resultados
Com os produtos gerados no projeto foi possível identificar o panorama da diversidade taxonômica desse grupo de plantas em algumas áreas do semiárido. Segundo Fátima, foram registradas 28 novas ocorrências de espécies da família para a região Nordeste, além de identificadas populações de espécies raras e a descoberta da nova espécie para a ciência. Também foi realizado extenso levantamento da família nos principais herbários da região, com o objetivo de complementar dados de distribuição geográfica das espécies.
A pesquisa confirmou a necessidade de inventariar novas áreas no bioma Caatinga. "A identificação de áreas e de ações prioritárias, como a pesquisa, tem-se mostrado um valioso instrumento para a conservação e proteção da Caatinga".
Por apresentarem alto potencial econômico, o gerenciamento sustentável de unidades de conservação e das áreas da Caatinga pode ajudar na manutenção das espécies da família Euphorbiaceae. "Ainda mais porque áreas como aquelas nas quais Gymnanthes boticario foi encontrada estão se tornado cada vez mais raras", conta a pesquisadora.
A Caatinga tem sido degradada pelo manejo inadequado de sua vegetação, exploração de pecuária extensiva e agricultura. "Essa situação coloca em risco a biodiversidade do bioma com número expressivo de espécies raras e endêmicas", revelou a pesquisadora.
A região nordeste do Brasil comporta atualmente 245 espécies da família Euphorbiaceae, distribuídas, com maior frequência, nas áreas de Caatinga. Além dessa expressiva ocorrência, a família contempla um número considerável de espécies com potencial econômico no setor farmacológico-medicinal, industrial, madeireiro, ornamental, na produção de alimentos.
(Agência Fapeam, com informações do blog Eco)
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