Turismo em PE ameaça cavalo-marinho

Pesquisa mostra que população do animal no estuário do Rio Maracaípe, no Litoral Sul de Pernambuco, sofreu redução de aproximadamente 70% nos últimos dez anos.

Em dez anos, a população de cavalos-marinhos no estuário do Rio Maracaípe, Litoral Sul de Pernambuco, onde o peixe é atração de passeio turístico, sofreu redução de aproximadamente 70%.

"Atualmente, existe um terço do que havia em 2001", afirma a bióloga Rosana Silveira, coordenadora do Projeto Hippocampus, que se dedica à pesquisa e conservação da espécie, na lista da IUCN (sigla em inglês para União Internacional para a Conservação da Natureza) de animais ameaçados de extinção.

A pesquisadora aponta o estresse provocado no animal pela atividade turística, a contaminação ambiental e o assoreamento do rio como as causas do declínio populacional do cavalo-marinho.

Durante o passeio, os jangadeiros capturam os peixes para os turistas fotografar e depois os devolvem à água. Também há indícios da ocorrência de translocação, que é pegar os animais num local que tem mais para por num onde tem menos ou nenhum.

"Os cavalos-marinhos possuem fidelidade local, ou seja, gostam de estar no mesmo ponto repetidas vezes, o que os tornam alvos fáceis de capturas. Daí porque os jangadeiros sempre sabem onde estão os peixes e se beneficiam disso (ou pensam que se beneficiam), fazendo as translocações", esclarece a bióloga.

A contaminação ambiental, na avaliação da pesquisadora, é provocada pela falta de saneamento básico. "O estuário sofre com excesso de coliformes fecais. O lançamento de efluentes domésticos ocorre no mangue e no pontal. Os níveis são muito acima dos permitidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), perdendo sua condição de balneabilidade."

Já o assoreamento, que é o acúmulo de sedimentos no leito do rio, é um problema mais recente. "As obras do governo do Estado, de duplicação e pavimentação da estrada que vai até Maracaípe, têm contribuído não só com o assoreamento, mas também com o aumento da turbidez nas águas do rio", atesta.

A redução populacional, na opinião da pesquisadora, se intensificou a partir de 2006, quando a quantidade de jangadas usadas nos passeios turísticos direcionados ao cavalo-marinho subiu de 25 para 37. Rosana alerta para os riscos que a atividade turística representa para a sobrevivência dos peixes no Rio Maracaípe. "Uma população muito pequena pode se extinguir por falta de variabilidade genética", justifica.

Além de avaliar o declínio populacional, a pesquisadora tem observado a saúde dos peixes. "Verificamos a presença de machucados no corpo dos cavalos-marinhos, a descoloração e até mesmo a perda de anéis caudais. As duas primeiras situações não são raras e frequentemente são decorrentes do excesso de manejo inadequado dos animais", atesta.

O trabalho é feito pela equipe do Laboratório de Aquicultura Marinha, vinculado ao Projeto Hippocampus, financiado pela Petrobras. No local, aberto à visitação, os pesquisadores estudam a biologia e a reprodução da espécie, chamada pelos cientistas de Hippocampus reidi. O próximo passo do trabalho será quantificar os resíduos de agrotóxicos provenientes das plantações de cana-de-açúcar, além de analisar os poluentes orgânicos.

As coletas dos cavalos-marinhos para o estudo são feitas em quatro pontos do estuário, um deles inacessível às jangadas, o que permite a comparação dos dados. A equipe avalia, além da densidade populacional desses peixes, a estrutura do grupo. Nos pontos visitados, não existe cavalo-marinho com altura superior a 16 centímetros, o equivalente a pouco mais de um ano de vida.

"Sabemos que a expectativa de vida da espécie é de cinco anos, em média. Uma população de cavalos-marinhos sem a presença de indivíduos mais velhos indica que está ocorrendo coleta para o comércio, pois os preferidos pelos lojistas são os maiores, independentemente da finalidade, se 'remédio caseiro' ou peixe ornamental", denuncia.

Projeto investirá na capacitação de jangadeiros

Os passeios direcionados ao cavalo-marinho no estuário do Rio Maracaípe envolvem, por ano, 85 mil turistas. A estimativa é do engenheiro de pesca Glauber Carvalho, do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), que teve projeto de educação voltado para os jangadeiros do local aprovado recentemente pela Petrobras.

"Atuam na área 38 jangadas. Cada uma conduz seis pessoas e faz dois passeios por dia. Isso dá, em média, um fluxo de 456 visitantes diariamente", detalha. O passeio é feito de jangada, mas trafegam no local lanchas e jet-skis.

O objetivo de Glauber, que receberá do programa Petrobras Ambiental R$ 2 milhões, em dois anos, é capacitar os jangadeiros para mostrar não apenas os peixes, mas também outras atrações do mangue, como aratus e caranguejos. "Os turistas querem saber mais sobre o manguezal, mas nem todos os jangadeiros têm condições de responder as perguntas. Vamos prepará-los melhor", adianta.

O projeto prevê ainda a instalação de um centro de visitantes com lojinha e sala para a exibição de vídeos sobre cavalos-marinhos. "O estuário do Rio Maracaípe enfrenta problemas relacionados à supressão de áreas de mangue, disposição inadequada de resíduos sólidos, deficiência no saneamento básico e ocupação irregular", destaca.

O passeio focado no cavalo-marinho, segundo o pesquisador, é a principal fonte de renda de 50 famílias de pescadores que compõem a Associação de Jangadeiros do Pontal de Maracaípe. Glauber pretende promover cursos, confeccionar cartilhas temáticas e realizar oficinas para 2.300 pessoas da comunidade.

"Também serão monitorados e estimados os impactos ocasionados pela poluição do estuário ao cavalo-marinho através do monitoramento da qualidade da água e do sedimento do Rio Maracaípe", adianta. Estão previstas ainda a adoção de padronização dos jangadeiros e das embarcações, elaboração de vídeo educativo, além de publicações científicas e palestras.

O coordenador enfatiza que o projeto será executado mediante articulação em rede com outras instituições, incluindo a Prefeitura de Ipojuca, ONGS, entidades públicas e privadas de pesquisa e financiamento, visando à continuidade das ações e à sustentabilidade financeira do projeto.

(Verônica Falcão - Jornal do Commercio/PE)

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