Duas companhias americanas fizeram avanços inéditos, neste ano, ao conseguir aprovação regulamentar para iniciar os primeiros experimentos com células-tronco embrionárias em humanos com lesão na medula e cegueira.
As poderosas e controversas células-tronco embrionárias são capazes de se especializar e formar qualquer tecido do corpo humano, abrindo um caminho para a cura de doenças como mal de Parkinson, diabetes, paralisia, doenças cardíacas e, quem sabe, reverter os males advindos do envelhecimento.
Outros experimentos em humanos estão a caminho, enquanto os cientistas refinam novos métodos para contornar a controvérsia que cerca as pesquisas com células-tronco embrionárias porque envolvem a destruição de embriões humanos nos primeiros estágios de desenvolvimento.
“Depois de uma década de intensa controvérsia, o campo está finalmente pronto para começar a se abastecer e realmente começar a ajudar os pacientes que padecem de uma série de doenças terríveis”, comemorou Bob Lanza, cientista chefe da empresa Advanced Cell Technology.
Doença de Stargardt - Em novembro, a companhia recebeu sinal verde da agência que regula os alimentos e os medicamentos nos Estados Unidos (o Food and Drug Administration, FDA na sigla em inglês) para começar a testar uma terapia derivada de células-tronco embrionárias para tratar uma forma rara de cegueira que acomete crianças, conhecida como doença de Stargardt.
O início dos testes clínicos é aguardado para os próximos meses e os resultados podem ser divulgados no prazo de um semestre.
Em outubro, a Geron Corporation anunciou ter iniciado o primeiro teste de células-tronco embrionárias humanas em um paciente com lesão na medula. Espera-se que um total de 12 pacientes participem do estudo, com um ano de duração.
O objetivo principal dos dois estudos é determinar padrões de segurança e não necessariamente restaurar a mobilidade ou a visão.
A grande procupação com os tratamentos de células-tronco é que as células modificadas possam formar tumores. Mas se os métodos se revelarem seguros, as duas empresas esperam expandir seus testes para populações maiores na esperança de encontrar uma cura para a paralisia e a cegueira.
Doze anos atrás, uma equipe do cientista americano James Thomson isolou células-tronco embrionárias humanas pela primeira vez e a área tem se revelado um campo minado de polêmicas desde então.
O ex-presidente americano George W. Bush proibiu o financiamento federal para estas pesquisas por envolverem o descarte de embriões humanos, uma decisão revertida pelo presidente Barack Obama logo após chegar ao poder, em 2009.
Mas, em agosto deste ano, o juiz Royce Lamberth bloqueou o financiamento do governo americano às pesquisas com células-tronco, em decisão favorável a uma coalizão de grupos, inclusive algumas organizações cristãs.
Enquanto o financiamento público tem sido permitido desde que uma apelação, em setembro, contestou a proibição, a disputa legal deixou alguns cientistas preocupados com o futuro.
“Esta situação hesitante só vai paralisar o progresso do trabalho de todos”, disse na ocasião Tim Kamp, chefe do Centro de Medicina Regenerativa e Células-tronco da Universidade do Wisconsin.
Para contornar os problemas associados às pesquisas com células-tronco embrionárias, os cientistas têm buscado alternativas, e este ano criaram as células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês), capazes de se transformarem em células da pele, do sangue ou do coração, assim como as células-tronco embrionárias.
Desafios – O campo das células-tronco pluripotentes induzidas enfrenta seus próprios desafios, uma vez que estudos demostraram que são menos eficientes e mais imprevisíveis que as embrionárias.
Entretanto, cientistas canadenses descreveram neste ano, na revista científica “Nature”, o método que desenvolveram para transformar células de pele de adultos humanos em células sanguíneas, sem torná-las células pluripotentes, tornando o processo mais eficiente e potencialmente mais seguro.
De volta aos Estados Unidos, um cientista da Universidade de Harvard, Derrick Rossi, descobriu uma forma de evitar perigosas alterações genéticas e, ao invés disso, usar moléculas de RNA para reprogramar as células humanas adultas em células-tronco pluripotentes sem alterar o DNA.
Segundo Lanza, os avanços, embora ainda precisem passar por testes rigorosos, oferecem uma promessa de tratar uma série de doenças e de um dia eliminar a necessidade de amputação de membros, de transfusão de sangue e transplantes de órgãos de terceiros.
“Em algum momento no futuro, talvez no tempo de vida da maioria dos seus leitores, você pode sofrer um acidente e perder um rim e uma célula da pele simplesmente lhe dará um novo órgão”, ilustrou Lanza. “Esta área está apenas começando”, emendou.
(Fonte: Folha.com)
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