Embriões contra cegueira na velhice
Empresa americana usará célula-tronco para tratar doença comum.
A empresa americana de biotecnologia Advanced Cell Technology (ACT) foi autorizada pela Administração de Drogas e Alimentos nos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) a iniciar um teste com células-tronco embrionárias humanas para tratar a forma de cegueira mais comum, a degeneração macular relacionada à idade (DMRI), que destrói a retina de forma irreversível e ainda não tem cura.
Os cientistas reproduziram células de epitélio pigmentar da retina - tecido que tem os fotorreceptores responsáveis por captar a luz no olho - a partir de embriões descartados em clínicas de reprodução humana para reverter a DMRI em sua forma seca (responsável por 90% dos casos; a outra é a exsudativa ou úmida), que só nos Estados Unidos atinge de 10 milhões a 15 milhões de pessoas.
Em novembro de 2010, a empresa já havia sido autorizada a aplicar umtratamento semelhante em 12 pacientes que sofrem de degeneração macular de Stargardt - esta, uma forma rara que atinge crianças e adolescentes - depois que os cientistas conseguiram obter excelentes resultados nos testes realizados em ratos.
No protocolo para DMRI também serão tratados 12 pacientes. As células de epitélio pigmentar da retina serão injetadas no olho doente para recuperar a capa de fotorreceptores dos olhos. Nessa fase da experiência (1 e 2) serão avaliadas apenas a segurança e a tolerância ao procedimento.
Na DMRI os pacientes ficam com a visão, principalmente a central, borrada e têm grande dificuldade para enxergar. Robert Lanza, diretor-científico da ACT - empresa com sede em Massachusetts e a primeira companhia de biotecnologia a clonar embriões humanos para estudos, em 2001 -, lembra que a DMRI é a principal causa de perda de visão a partir de 55 anos.
- Calcula-se que dobrará a incidência de degeneração macular senil nos próximos 20 anos, aumentando esta necessidade médica, ainda sem uma solução - acrescentou Lanza. - Somos capazes de produzir uma quantidade ilimitada de células saudáveis de epitélio pigmentar da retina, e é necessário apenas um pequeno número de células para tratar cada paciente.
O pesquisador disse ainda que, com base nos resultados de estudos em animais, realizados na companhia, os cientistas de sua equipe estão animados com a oportunidade de tratar seres humanos.
E a ACT estima que os mercados americano e europeu para este tipo de tratamento alcancem um total de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões.
- Nos animais temos visto uma melhora significativa na capacidade de visão, sem quaisquer efeitos adversos - acrescentou.
Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, fatores como pele clara com olhos azuis ou verdes, exposição excessiva à radiação solar, hábito de fumar e dieta rica em gorduras aumentam o risco para DMRI.
- A ACT agora é a primeira empresa a receber o aval da FDA para dois testes com hESC (sigla em inglês para células-tronco embrionárias humanas); um verdadeiro líder transnacional no campo da medicina regenerativa - afirmou Gary Rabin, presidente interino e chefe executivo da ACT. - Isso representa um grande passo à frente, não apenas na área das células-tronco, mas potencialmente para as técnicas modernas de cuidado com a saúde. Esperamos iniciar os testes o mais rapidamente possível - afirmou.
A pesquisa com células-tronco embrionárias é controversa, e críticos a condenam porque dizem que ela destrói os embriões humanos. Já os cientistas garantem que os embriões não são exterminados porque as células são geradas a partir de uma única célula, na fase em que eles têm oito.
(O Globo)
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