Projeto de reflorestamento de empresa brasileira é aprovado pela ONU

Floresta de eucalipto plantada em Curvelo, região Centro-Norte de Minas Gerais/Foto: Arquivo Plantar

O primeiro projeto brasileiro de reflorestamento relacionado aos créditos de carbono, desenvolvido pela empresa mineira Plantar Carbon, obteve a aprovação da ONU (Organização das Nações Unidas) na sexta-feira, 24 de setembro, por meio do Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto.

Com base no MDL, a empresa ligada ao Grupo Plantar se tornou a primeira do setor de gestão florestal e siderurgia a utilizar 100% de carvão vegetal de florestas plantadas na produção siderúrgica. A organização pretende remover nos próximos 30 anos aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). O primeiro acordo de comercialização dos créditos foi fechado com o Banco Mundial - foram vendidas 1,5 milhão de toneladas de CO2 por US$ 5 milhões.

O MDL permite a certificação de projetos de redução de emissões nos países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, e a posterior venda das reduções certificadas de emissões (RCEs) para serem utilizadas pelas nações desenvolvidas como suplemento para cumprirem suas metas.

Segundo o gerente da Plantar Carbon, Fábio Marques, a aprovação do projeto abre caminho para que esse modelo sustentável de operações da companhia seja seguido por outros grupos do setor. “Vamos agora aproveitar o know-how da empresa para prestar consultoria a terceiros”, adiantou.

O processo junto à ONU demorou quase dez anos, pois, por ser pioneira, a empresa teve que desenvolver e empregar as metodologias de projeto que também são aprovadas pelo organismo internacional. Em média, a aprovação de cada metodologia durou dois anos, e esse projeto se refere à primeira delas que cobre os estoques de carbono gerados pelas florestas.

Como funciona

Baseado no artigo 12 do Protocolo de Kyoto, de acordo com os critérios do MDL, o projeto da Plantar Carbon busca a produção verde de ferro-gusa, por meio do uso de biomassa plantada. Desenvolvida em parceria com o Fundo Protótipo de Carbono do Banco Mundial (Prototype Carbon Fund - PCF), a iniciativa é baseada na utilização de carvão vegetal proveniente de florestas plantadas, em vez de carvão mineral, combustível fóssil tido como um dos principais vilões do aquecimento global.

Para desenvolver o projeto, a Plantar Carbon utiliza uma área plantada de 11 mil hectares de eucalipto (de um total de 23 mil hectares). Uma das determinações do MDL é que o reflorestamento aproveite metade da extensão dos locais de pastagens, no intuito de não estimular o desmatamento para esse fim. Com o tempo, a madeira que será formada originará o carvão vegetal, que por sua vez contribuirá para a produção siderúrgica de ferro-gusa.

De acordo com a empresa, uma tonelada de ferro-gusa produzido com carvão mineral emite 1,9 toneladas de CO2 para a atmosfera. Já uma tonelada de ferro-gusa produzido com carvão vegetal resgata 1,1 toneladas de CO2 a mais da atmosfera. A conclusão é que ao considerar as emissões evitadas no processo industrial e o estoque de carbono propiciado pelos plantios sustentáveis do projeto, o uso de carvão vegetal de florestas plantadas na produção de ferro gera um ganho ambiental de três toneladas de CO2 para cada tonelada produzida. Também vale destacar a redução da emissão de metano gerada pela atividade de carbonização, que é contabilizada separadamente.

O crédito florestal é menos valorizado do que os demais. Ele é resultante da remoção do CO2 e não da exclusão do gás-estufa. No caso da emissão de gases causadores do efeito estufa em ambientes industriais, o que ocorre é a redução da emissão (o sequestro do gás), o que o valoriza mais. Atualmente, a tonelada do crédito de carbono vale € 13 euros (cerca de R$ 30).

Critérios socioambientais

A iniciativa é apoiada pelo governo de Minas Gerais, que trabalha em parceria com empresas do setor e organismos multilaterais para estimular o desenvolvimento de outros projetos parecidos no Estado. As cidades mineiras de Sete Lagoas (onde está instalada a usina de ferro-gusa da Plantar Carbon) e Divinópolis são dois grandes polos da produção siderúrgica.

"Além de gerar benefícios climáticos, o projeto teve que incorporar diversos indicadores socioambientais nas práticas de reflorestamento, o que favorece a preservação de espécies da flora e da fauna", salientou Marques, que há oito anos seguidos participa da delegação brasileira nas Conferências das Partes das Nações Unidas sobre o Clima, como um dos representantes do setor privado.

Para a Plantar Carbon, um dos maiores ganhos no quesito desenvolvimento sustentável foi a incorporação do selo verde do FSC (Forest Stweardship Council), sistema de certificação florestal mais rigoroso do mundo, que garante o respeito a diversos critérios de sustentabilidade.

Redação EcoD

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