Pesquisadores desenvolvem antibiótico com ouriço do mar

Estudos avaliaram 30 espécies marinhas, mas o ouriço foi a que apresentou os melhores resultados

Cientistas da Universidade Católica de Brasília (UCB) descobriram no ouriço-do-mar uma substância com a qual pretendem desenvolver um antibiótico para ajudar no combate as infecções hospitalares. Estudos que ainda estão em andamento mostram que uma proteína presente nos animais eliminou com maior eficiência as bactérias Escherichia coli, Salmonella, Proteus e Klebsiella, que causam infecções intestinais, renais e pulmonares.

Há 15 anos trabalhando com antibióticos, o pesquisador Octávio Franco, do Centro de Ciências Genômicas e Biotecnologia da UCB, coordena dois projetos que buscam o controle dessas doenças por meio de compostos extraídos de animais marinhos. No início dos estudos foram analisadas cerca de 30 espécies de invertebrados, mas foi o ouriço-do-mar que se mostrou mais eficiente.

"Foi um sucesso porque descobrimos uma coisa nova num organismo tipicamente nacional e que funciona muito bem; além de ser totalmente natural", comemora o pesquisador.

O centro trabalha com uma série de antibióticos e detém cinco patentes. Seu foco é encontrar princípios ativos alternativos aos convencionais, em geral fungos e bactérias. A pesquisa recebe investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), além da própria universidade.

Franco, que também é professor, explica que com o passar do tempo, as bactérias causadoras de infecção hospitalar se tornam resistentes aos medicamentos convencionais, e "desta forma é preciso buscar outras fontes de fármacos", diz.

Segundo ele, o que despertou o interesse do grupo por animais marinhos foi a capacidade de se adaptarem muito bem a ambientes extremamente agressivos e competitivos, cheios de microorganismos. "Então, basicamente os escolhendo pela alta capacidade de resistência a agressividade ambiental que enfrentam. Acabamos usando deles o que a natureza levou milhões de anos para desenvolver", diz Franco.

Os cientistas da UCB, que trabalham em rede com grupos da Bahia, Inglaterra, Estados Unidos, Austrália e Cuba, receberam exemplares de diversas espécies da costa brasileira e do caribe para as pesquisa.

Essa articulação foi necessária, diz Franco, porque Brasília está muito longe da faixa litorânea. O trabalho cooperativo permite se economizar com o deslocamento de uma grande equipe e na infraestrutura para a coleta marinha.

O pesquisador conta que o antibiótico se mostrou eficaz em laboratório e que aguarda o desenrolar do processo de patenteamento. Franco diz que, além da falta de experiência com a burocracia nos trâmites para essa finalidade, a equipe ainda tem que enfrentar outras questões para prosseguir com os testes clínicos.

"Encontramos muita dificuldades hoje no país para fazer com que um fármaco aconteça. É muita burocracia a ser enfrentada e isso atrapalha muito", desabafa. Em sua opinião, "é muito mais fácil se descobrir um antibiótico do que colocá-lo no mercado", critica o cientista. Franco diz que "é extremamente frustrante saber que temos uma série de compostos estudados e que grande parte deles não se transformará em benefício real à população".

Ainda de acordo com o professor, atrair o interesse de empresas multinacionais produtoras de fármacos é "realmente problemático", pois elas geralmente trabalham com a perspectiva de alto lucro "e não se interessam em investir em medicamentos que trarão retorno apenas razoável, como antibióticos".

De qualquer maneira, ele diz que não se pode parar com as pesquisas. Para ele, um dos meios de se vencer parte desse entrave "é o governo, além dos estudos, investir também nas empresas, principalmente as de pequeno porte que atuam no ramo da produção de medicamentos".

Consumo

Estudo divulgado no mês passado pela "Revista Panamericana de Saúde Pública" aponta que entre 1997 e 2007 aumentou em 10% o consumo médio de antibióticos nos oito países de maior mercado farmacêutico da América Latina. Os autores do levantamento analisaram indicadores de venda de antibióticos com e sem prescrição médica em farmácias, clínicas privadas e hospitais da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, Uruguai e Venezuela.

Como parâmetro, eles usaram a Dose Diária Definida (DDD) por mil habitantes. Isso significa que 10 pessoas em cada grupo de mil consomem uma dose diária de antibiótico. Indica o levantamento que enquanto em 1997 o consumo promédio foi de 10,92 DDD, em 2007 se elevou para 11,99 DDD, o equivalente a um aumento de 9,8%.

Em 1997, o consumo mais alto de antibiótico foi registrado no México (15,69 DDD), seguido da Argentina (14,37), Chile (14,07), Colômbia (12,17) e Venezuela (11,18). O menor uso foi registrado no Peru (7,91), Brasil (6,51) e Uruguai (5,43).

Dez anos depois a lista é encabeçada pela Argentina (16,64), seguida da Venezuela (15,99), Peru (13,50), México (13,26) e Chile (12,53). O consumo mais baixo foi registrado no Brasil (7,01), Colômbia (8,07) e Uruguai (8,9).

(Assessoria de Comunicação do MCT)

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