Pesquisadores localizam no Rio Grande do Sul o mais completo esqueleto do Prestosuchus chiniquensis já achado no mundo. Com 7m de comprimento, animal viveu há 238 milhões de anos e pertencia à linhagem que originou os dinossauros que voavam
Paleontólogos brasileiros descobriram o fóssil quase completo do maior predador do Período Triássico próximo ao município de Dona Francisca, a 260km de Porto Alegre. O animal da espécie Prestosuchus chiniquensis viveu a aproximadamente 238 milhões de anos e era um arcossauro - linhagem que deu origem aos dinossauros que voavam. Ele fazia parte do grupo dos tecodontes, que mais tarde dariam origem aos dinossauros e aos mamíferos. "Mesmo fazendo parte dos arcossauros, o Prestosuchus está mais próximo da linhagem dos crocodilos. É o maior predador do período Triássico médio no mundo", esclarece Sérgio Cabreira, paleontólogo que chefia a equipe responsável pelo achado.
A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) que há seis anos estuda uma área rica em fósseis na região central do Rio Grande do Sul. "Essa localidade apresenta uma concentração de rochas datadas do Triássico (época em que surgiram os primeiros ancestrais dos mamíferos e dinossauros) com fósseis de animais da época. O conhecimento dessas formas de vertebrados é extremamente importante para entendermos o processo evolutivo", afirma Cabreira.
Segundo os cientistas, o fóssil tem entre 50% e 60% de seu esqueleto completo, inclusive com estruturas até então desconhecidas, como o membro posterior. "Esse membro ainda não era conhecido. Havia apenas uma ideia de como seria", conta Lúcio Roberto da Silva, biólogo e integrante do grupo de pesquisa. O crânio também está completo. Ele mede 84cm e possui dentes que chegam a 10cm de comprimento, o que indica tratar-se de um animal carnívoro.
Com 7m de comprimento e 900kg, o Prestosuchus tem o padrão de um animal que vive no topo da cadeia alimentar. "Seu tamanho demonstra que não teria nenhum outro animal maior que ele nesse período no mundo", esclarece o biólogo. Sua altura média variava de 60cm a 1m e seu comprimento pode ser comparado a quatro bois, colocados um ao lado do outro. Comparado ao Tiranossauro rex - o maior predador entre os dinossauros, que surgiu 150 milhões de anos depois dos tecodontes -, o Prestosuchus era um excelente caçador, tão ou mais agressivo. "Ele utilizava suas garras para pegar as presas. Era quadrúpede, mas ficava em pé quando atacava", completa Cabreira.
Bom estado
De acordo com Silva, o fóssil do Prestosuchus foi encontrado em uma rocha que caracteriza um antigo lago, que passava por grandes períodos de seca. O bom estado de conservação chamou a atenção dos pesquisadores. Os ossos estão na mesma posição que estariam no esqueleto do animal em vida, e o crânio ainda contém os dentes praticamente intactos. Segundo os pesquisadores, essa conservação trará uma unidade às informações obtidas até hoje sobre os Prestosuchus. "Existem alguns fósseis do animal na Argentina, nos Estados Unidos e na Europa, mas nenhum tão inteiro. Podemos afirmar que esse é o fóssil mais completo de que temos notícia no mundo", afirma o biólogo. Cabreira diz que um esqueleto tão completo como o descoberto harmoniza a informação que está dispersa nos fragmentos. "Raramente é encontrado um fóssil que traz um conjunto tão grande de informações de uma vez."
Os primeiros fósseis de Prestosuchus foram encontrados entre 1920 e 1930 e levados para a Alemanha para serem estudados. Porém os materiais eram muito fragmentados. Em 1976, um crânio foi encontrado bem conservado, mas isolado do esqueleto. Nos últimos anos, os pesquisadores no Rio Grande do Sul têm encontrado novos materiais. "Mas também são materiais isolados que não conseguimos unificar sobre um gênero único", conta Cabreira.
Agora, com a descoberta do esqueleto fossilizado, os pesquisadores poderão identificar se os fragmentos encontrados em outras escavações são mesmo da espécie e, com isso, melhorar os estudos filogenéticos do grupo. Outro possível efeito do achado é trazer de volta, para o âmbito de discussão do Período Triássico, a existência de um superpredador. "Na cultura geral, muito se fala dos períodos Jurássico e Cretáceo. O Triássico, porém, rende poucos trabalhos e estudos científicos", conclui Cabreira.
(Silvia Pacheco - Correio Braziliense)
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