Cientistas anunciaram o uso da tecnologia de
clonagem para produzir células-tronco embrionárias contendo genes de uma mulher
diabética, e transformando-as depois em células beta produtoras de insulina,
que podem, um dia, curar a doença.
A equipe de cientistas revelou ter superado um importante obstáculo na
busca pela produção de “células-tronco personalizadas” para a utilização no
tratamento de doenças. Mas um especialista em bioética advertiu que o avanço
também chama atenção para a necessidade de haver uma regulamentação maior para
embriões desenvolvidos em laboratório.
“Estamos agora mais perto de conseguir tratar pacientes diabéticos com
suas próprias células produtoras de insulina”, afirmou Dieter Egli, da Fundação
de Células-tronco de Nova York (NYSCF), que conduziu o estudo publicado na
revista científica Nature.
Egli e uma equipe de pesquisadores transplantaram o núcleo das células
retiradas da pele da mulher em óvulos humanos para produzir células-tronco, as
quais induziram para que se tornassem células beta. A escassez destas causa
deficiência de insulina e altos níveis de açúcar no sangue dos diabéticos.
Ao fazer o transplante, a equipe confirmou um recurso potencialmente
importante para a futura terapia de reposição celular.
Este não é o primeiro estudo a criar células-tronco dessa forma, mas foi
o primeiro a utilizar células retiradas de uma pessoa adulta com o objetivo de
produzir células específicas para tratamento.
Insoo Hyun, especialista em bioética da Escola de Medicina da
Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, Ohio, disse que a pesquisa, a
última a produzir células-tronco embrionárias contendo o genoma de pessoas
vivas, fez soar o alerta.
“Esta clonagem repetida de embriões e a geração de células-tronco, agora
usando células coletadas de adultos, aumenta a probabilidade de que embriões
humanos sejam produzidos para criar tratamentos para um indivíduo específico”,
escreveu em um comentário também publicado na Nature.
“Estruturas regulatórias precisam ser ativadas para supervisionar isto”,
afirmou.
As células-tronco embrionárias – células neutras, primitivas, capazes de
se desenvolver e dar origem à maior parte das células de tecidos especializados
do corpo – são consideradas uma fonte potencial para a reposição de órgãos
danificados por doenças ou acidentes.
Mas elas são controversas, uma vez que até recentemente as
células-tronco só poderiam ser obtidas a partir de embriões.
Elas podem ser desenvolvidas em laboratório, através da transferência do
núcleo de uma célula de um tecido como a pele, que contém o DNA de uma pessoa,
para um óvulo, que teve seu núcleo removido anteriormente.
Por meio de um pulso elétrico, o óvulo começa a se dividir até formar um
blastocisto, um estágio primitivo do embrião formado por cerca de 150 células
contendo o DNA do doador do tecido.
Tecnologia de clonagem – Denominada de transferência nuclear de células somáticas (ou SCNT, na
sigla em inglês), a técnica é utilizada na pesquisa terapêutica, mas também é o
primeiro passo da clonagem e foi empregada para criar a ovelha Dolly.
O método é proibido em muitos países.
Neste novo estudo, cientistas de Estados Unidos e Israel afirmaram ter
feito “melhorias técnicas”, alterando as substâncias químicas usadas na cultura
na qual as células são desenvolvidas.
As células-tronco poderão ser induzidas para dar origem a diferentes
tipos de células adultas, inclusive células beta, explicou a equipe.
“Ver os resultados de hoje me dá esperanças de podermos, um dia,
alcançar a cura para esta doença debilitante”, afirmou a diretora-executiva da
NYSCF, Susan Solomon.
A mesma equipe tinha, anteriormente, produzido células beta com um
método semelhante, mas utilizando óvulos com seus núcleos ainda intactos,
resultando em células-tronco com três conjuntos de cromossomos que não poderiam
ser usados terapeuticamente.
Com o novo método, as células-tronco originadas continham os habituais
pares de cromossomos, escreveram os cientistas.
Hyun alertou que um estudo como esse pode alimentar temores de um futuro
em que bebês humanos serão clonados ou embriões insensivelmente criados e
destruídos em pesquisas, e pediu um fortalecimento das estruturas de supervisão.
Mas Solomon disse que o estudo era “estritamente para fins terapêuticos”
e apoiou uma supervisão ética estrita do procedimento.
“Em nenhuma circunstância nós, ou qualquer outro grupo científico
responsável, temos a intenção de usar esta técnica para a geração de seres
humanos, nem isto seria possível”, afirmou à AFP.
Segundo os cientistas, as células beta produzidas no estudo não podem
ainda ser usadas em terapias de substituição.
O sistema imunológico dos diabéticos ataca as células beta e ainda é
preciso encontrar formas de protegê-las.
(Fonte: UOL)