Pintando a fauna do passado

Análise de organela celular encontrada em fósseis de mais de 100 milhões de anos permite descobrir a cor de dinossauros com penas

Reprodução do Anchiornis huxleyi: cores chamativas, talvez para estimular o acasalamento
O estudo dos melanossomas, organelas celulares que contêm o pigmento melanina, preservados em fósseis de dinossauros pode mudar o tom dos trabalhos sobre dinossauros com penas daqui para a frente. Por meio da análise microscópica dessas estruturas, uma equipe de paleontólogos norte-americanos e chineses reconstituiu o padrão de cores de cada uma das penas do Anchiornis huxleyi, um dinossauro bípede que viveu entre 150 e 160 milhões de anos atrás na China.

De tamanho similar a uma galinha, esse animal do final do período Jurássico tinha um corpo majoritariamente cinza-escuro ou preto, crista e pintas na área da face vermelho-alaranjadas e penas brancas nas asas e nas patas. Parecido com o de alguns pássaros modernos, o vibrante padrão de cores pode ter sido útil para chamar a atenção e estimular o acasalamento. As cores do dinossauro alado chinês foram apresentadas num artigo publicado hoje na versão online da revista científica Science.

"Não era nenhum corvo ou pardal, mas uma criatura com uma plumagem notável", diz Richard O. Prum, professor de Ornitologia, Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade Yale, um dos autores do estudo. "Seria um animal muito chamativo se vivesse hoje." Segundo os cientistas, o grau de confiabilidade do método para descobrir a cor das penas do dinossauro é de 90%.

Presentes na penas e nos pelos dos animais, os melanossomas podem ser relacionados a algumas cores, dizem os pesquisadores. Se forem longas e afiladas, as organelas indicam a cor preta ou cinza. Quando pequenas e grossas, estão relacionadas a plumagens de tons laranja-avermelhados e marrom. Analisando a densidade e o tipo de melanossomas, estrutura que se conserva mesmo em alguns fósseis muito antigos, é possível ter uma ideia confiável acerca das cores das penas de um animal. A técnica foi testada com sucesso em aves extintas, inclusive num fóssil brasileiro de 112 milhões de anos, e agora começa a ser usada com mais frequência em dinossauros plumados.
O trabalho sobre o fóssil chinês é o segundo estudo cientifico a se valer dos melanossomas para dar cores a dinossauros com penas. Na semana passada, paleontólogos do Reino Unido, da Irlanda e da China publicaram um artigo na revista científica Nature em que também reconstituíram os tons da plumagem de um pequeno dinossauro bípede e carnívoro, cujo fóssil de 125 milhões de anos fora igualmente encontrado na China. O Sinosauropteryx era laranja e branco e tinha a cauda listrada.

Fasesp

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