A lista da flora brasileira acaba de ganhar uma nova espécie. Descoberta por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2006, a Gymnanthes boticário acaba de ser publicada na revista alemã Willdenowia – Anuário do Jardim Botânico e do Museu Botânico de Berlin-Dahlen.
A planta possui flores pequenas, de cor amarelo-creme e sem perfume / Fotos: Maria de Fátima de Araújo Lucena.
Pertencente à família Euphorbiaceae, a mesma de velames, urtigas, mameleiros e leiteiras, a planta é um arbusto com altura variando de um a quatro metros. Habitante de áreas de caatingas arenosas ou pedregosas, com altitude de 400 a 900 metros, a nova espécie possui flores pequenas, de cor amarelo-creme e sem perfume.
Até a descoberta da nova espécie, eram conhecidas 45 plantas do gênero Gymnanthes no mundo, três delas no Brasil. Até o momento, sua ocorrência está registrada para os estados de Pernambuco, Piauí, Paraíba, Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte.
A descoberta foi feita com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza durante um projeto que pesquisava a diversidade desta família na Caatinga nordestina, entre os anos de 2006 e 2008.
Foi por causa desse apoio que a planta foi batizada com o nome “Boticário”. Agora, a Gymnanthes boticario une-se ao anfíbio Megaelosia boticariana, aos peixes Aphyolebias boticarioi e Listrura boticario, além de outra espécie vegetal, a Passiflora boticarioana Cervi, que também homenageiam a Fundação.
Descobertas
A espécie foi coletada, pela primeira vez em maio de 2006, na cidade de Mirandiba (PE), pela pesquisadora Maria de Fátima de Araújo Lucena. Em 2007, ela registrou novos indivíduos no Parque Nacional Serra da Capivara (PI), e recentemente foram encontradas novas populações no município de Pedra Branca (PB), na Serra de Olho d’Água (CE).
De acordo com Maria de Fátima, todos os espécimes já coletados foram encontrados em remanescentes de Caatinga bem preservados, com pouca intervenção humana e, por vezes, de difícil acesso, com vegetação predominante arbustiva e arbórea.
Durante o projeto também foi feito um inventário florístico da família Euphorbiaceae em áreas consideradas prioritárias para a conservação na Caatinga e com necessidade de investigação científica ou cujo conhecimento botânico fosse escasso.
Foram selecionadas duas unidades de conservação, o Parque Nacional Serra da Capivara (PI) e Parque Nacional Serra de Itabaiana (SE), além do município de Mirandiba (PE), a região dos Cariris Paraibanos (PA) e uma área no município de Porto da Folha (SE).
Graças à iniciativa, foi possível identificar o panorama da diversidade taxonômica desse grupo de plantas em algumas áreas do semiárido do nordeste brasileiro. De acordo com Maria de Fátima, além da descoberta da nova espécie, já foram de identificadas populações de espécies raras, além de registrar 28 novas ocorrências de espécies da família para a região Nordeste.
A pesquisadora ainda informou que foi realizado um extenso levantamento da família nos principais herbários da região com o objetivo de complementar dados de distribuição geográfica das espécies.
Inventários para conservação
De acordo com Maria de Fátima, a pesquisa também confirmou a necessidade urgente de inventariar novas áreas no bioma Caatinga. “A identificação de áreas e de ações prioritárias, como a pesquisa, tem-se mostrado um valioso instrumento para a conservação e proteção da biodiversidade na Caatinga, no Brasil e no mundo”, disse.
Ela reforçou que, por apresentarem alto potencial econômico, o gerenciamento sustentável de unidades de conservação e das áreas consideradas prioritárias para a conservação do bioma pode ajudar na manutenção das espécies da família Euphorbiaceae.
“Ainda mais porque áreas como aquelas nas quais Gymnanthes boticario foi encontrada têm tornado-se cada vez mais raras, pois a Caatinga tem sido degradada pelo manejo inadequado de sua vegetação, pela retirada de madeira e lenha, exploração de pecuária extensiva e agricultura. Essa situação coloca em risco a biodiversidade desse bioma com número expressivo de espécies raras e endêmicas”, afirmou.
A região nordeste do Brasil comporta atualmente 245 espécies da família Euphorbiaceae, distribuídas, em sua grande maioria, nas áreas de Caatinga. Além dessa expressiva ocorrência, a família contempla um número considerável de espécies com rico potencial econômico no aspecto farmacológico-medicinal, industrial, madeireiro, ornamental, na produção de alimentos.
Mandioca, mamona, seringueira, quebra-pedra, mameleiro, quebra-faca, velame, urtiga, flor-de-papagaio, coroa-de-cristo e pinhão são alguns exemplos. Ainda não se sabe se Gymnanthes boticario tem algum potencial de uso econômico.
(Ecod)
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