Todos sabemos que nossa memória não é perfeita. Esquecer detalhes ou
episódios inteiros de algo que já vivemos é comum.
Mas e se, mais que esquecer
e apagar fragmentos, nosso cérebro também reescreva e altere o passado com
elementos do presente? Essa é a hipótese lançada por um estudo da Northwestern
Medicine Feinberg School of Medicine, de Chicago, EUA.
A grande descoberta é que, ao contrário do que se imagina, a memória não
tem a precisão de uma câmera de vídeo. Ela reescreve o passado, usando
informações atuais e atualizando as lembranças com novas experiências.
O estudo, que será publicado amanhã no Journal of Neuroscience, é o
primeiro a mostrar especificamente que a memória estaria com defeito, e como
ela pode inserir informações do presente em lembranças passadas, quando são recuperadas.
O estudo indica o ponto exato no tempo em que a informação, de forma incorreta,
é implantada em uma memória existente.
A autora do estudo, Donna Jo Bridge, pós-doutora em ciências sociais
médicas, explica que, para nos ajudar a sobreviver, a memória se adapta a um
ambiente em constante mudança e nos ajuda a lidar com o que é importante agora.
“Nossa memória não é como uma câmera de vídeo”, disse Bridge. “Ela reformula e
edita eventos para criar uma história adequada à realidade atual”.
A “edição” da memória acontece no hipocampo, que, segundo a pesquisa,
funciona como um editor de filmes e uma equipe de efeitos especiais.
Para realizar o estudo, 17 pessoas estudaram 168 objetos, dispostos em
uma tela de computador, com variadas imagens de fundo. Os cientistas observaram
a atividade cerebral dos participantes, assim como o movimento dos olhos.
Os participantes tinham que colocar o objeto no local original, mas com
uma nova tela de fundo. O que se verificou foi que os objetos sempre eram colocados
em um local incorreto.
“Eles sempre escolhiam o local que já haviam selecionado na etapa
anterior”, explica Bridge. “Isso mostra que sua memória original do local foi
alterada para remeter a localização que lembravam na nova tela de fundo. As
memórias deles atualizaram as informações, inserindo as novas informações na
memória anterior”.
O autor sênior do estudo, Joel Voss, afirma que a noção de uma memória
perfeita é um mito. “A memória é projetada para nos ajudar a tomar boas
decisões no momento e, portanto, tem que estar atualizada. Uma informação que é
relevante agora pode substituir outra que já que estava lá”.
Bridge acrescenta que o estudo pode ter implicações para depoimentos de
testemunhas, por exemplo. “Nossa memória é construída para mudar, não somente
relatar fatos, sendo assim, não somos testemunhas muito confiáveis ”,
concluiu.
(Fonte: Terra)