Composto interrompe morte de neurônios relacionada a doenças degenerativas

A descoberta é considerada 'marco histórico' na luta contra Alzheimer e Parkinson. Cientistas britânicos testaram com sucesso em camundongos um composto capaz de interromper o mecanismo responsável pela morte de neurônios associada a doenças como os males de Alzheimer e Parkinson.
A descoberta está sendo saudada como um "marco histórico" na luta contra estas e outras demências relacionadas à idade, que devem afetar um número cada vez maior de pessoas à medida que a população mundial envelhece.

Conhecido pelo nome de laboratório GSK2606414, o composto atua sobre um sistema de defesa das células do cérebro que tem um papel comum em várias doenças neurodegenerativas caracterizadas pelo acúmulo de proteínas mal fabricadas no órgão, como as placas de beta-amiloide nos casos de Alzheimer. 

Chamado "resposta a proteínas desdobradas" (UPR, na sigla em inglês), este mecanismo ordena que as células do cérebro parem de fabricar proteínas para não piorar o problema. Como consequência, porém, os neurônios também interrompem a produção de proteínas essenciais para a sobrevivência das células nervosas, que acabam morrendo, levando à progressão das doenças.

A droga, desenvolvida pela indústria farmacêutica britânica GlaxoSmithKline em conjunto com pesquisadores da Universidade de Leicester, no Reino Unido, "desliga" o sistema UPR ao bloquear a ação de uma enzima batizada PERK que faz parte de sua ativação. Com isso, os neurônios continuam a fabricar as proteínas que necessitam, permitindo a sobrevivência das células cerebrais. O composto ainda tem a vantagem de romper a chamada barreira sangue-cérebro, podendo ser administrado oralmente, isto é, em pílulas.

Efeitos colaterais

No experimento, relatado na edição desta semana da revista "Science Translational Medicine", os cientistas deram o remédio a 29 camundongos a partir de sete ou nove semanas depois de terem sido previamente inoculados com uma doença priônica da mesma família de desordens como a síndrome de Creuzfeldt-Jakob e o mal da vaca louca, enquanto outro grupo de 17 animais, também infectados, recebeu apenas o veículo usado para administrar a substância. 

Segundo os pesquisadores, após 12 semanas nenhum dos camundongos tratados com o GSK2606414 apresentava demência, embora os que receberam o composto mais tardiamente tivessem leve perda de memória por já terem começado a desenvolver a doença. Os que ficaram sem a droga morreram.

- É um verdadeiro passo à frente - comentou Giovanna Mallucci, professora da Universidade de Leicester e chefe da equipe de cientistas responsável pelo experimento, ao jornal britânico "Independent". - Pela primeira vez foi dada uma substância a camundongos que preveniu uma doença cerebral. 

O fato de este ser um composto que pode ser administrado oralmente, que chega ao cérebro e previne uma doença é único por si só. Agora podemos seguir em frente e desenvolver moléculas melhores. Não vejo razão para que este processo seja restrito a camundongos e creio que ele provavelmente poderá ser obtido em outros mamíferos.

Os cientistas alertam, no entanto, que ainda há um longo caminho a percorrer antes que algum tratamento baseado no composto esteja disponível para seres humanos. Um dos grandes problemas verificados com o GSK2606414 no experimento é que ele provoca efeitos colaterais significativos, como perda de peso e uma leve diabetes devido a danos no pâncreas, que podem se agravar em terapias de longo prazo.

Ainda durante a experiência, alguns camundongos tratados com a droga tiveram que ser sacrificados para atender a regulamentações britânicas sobre o bem-estar de animais em laboratório porque perderam muita massa corporal.

- Mas este é o primeiro relato convincente que uma droga pequena, do tipo que mais convenientemente é convertida em remédios, interrompe a progressiva morte de neurônios encontrada, por exemplo, no mal de Alzheimer - avaliou Roger Morris, chefe do Departamento de Química do King's College de Londres ao "Independent". - Esta descoberta, suspeito, será julgada como um marco histórico na busca por medicamentos para controlar e prevenir o mal de Alzheimer.

(Cesar Baima/O Globo)

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